Por Gildazio de Oliveira Alves
No século XVI o
território onde se localiza atualmente o município de Mairi fazia parte de
vasta área entre os rios Itapicuru e Paraguaçu ocupada pelos índios paiaiás. A
ocupação efetiva desse território remonta aos idos de 1800, a partir da
fundação da fazenda Santa Rosa de Cima, por Severino Gomes de Oliveira. Esse é
o marco da fundação da futura Vila de Monte Alegre, até então pertencente ao
conjunto de matas, serras e rios que formava a imensa área do sertão das
Jacobinas. A origem de Mairi está diretamente associada à exploração das serras
de Jacobina, à formação de fazendas de gado e às missões religiosas,
responsáveis pela “descoberta” do monte, o marco da Santa Cruz, através do Frei
Apolônio de Todi.
Relatos do século XIX
e meados do século XX, descrevem Mairi como um lugar de clima excelente e solo
fértil, propício à produção de alimentos dos mais variados tipos. Contudo, ao
longo do século XX a pecuária se consolidou como atividade hegemônica no
município e, atualmente quase tudo que consumimos provém de outros municípios.
Na edição de 30/07/78, o Jornal O
Paraguaçu destacou o crescimento da pecuária no município e advertiu: “as
terras são adquiridas e transformadas em pastos e dia a dia desaparecem as
áreas mais propícias à lavoura ameaçando em breve sérios problemas de ordem
social” (p.07) A mesma edição destaca ainda que a falta de apoio ao pequeno
agricultor implicava na venda de suas roças, transformando-os em
agregados ou empregados dos pecuaristas, tendo como conseqüência imediata o
sub-emprego e o êxodo rural.
A pecuária destruiu
as matas exuberantes e os mananciais de água cristalina aqui existentes até o
século XIX. A colonização deste solo
concentrou terras e riquezas e não dinamizou as atividades econômicas. Mairi
hoje é um município sem receita própria que sobrevive dos repasses oriundos do
Governo Federal. Nosso pequeno comércio é alimentado pelos recursos da
Previdência Social (aposentados), servidores da Prefeitura Municipal e Programa
Bolsa Família.
Se no século XIX o
isolamento, a grandeza e escuridão das matas, a escabrosidade das estradas, a
febre intermitente, as cobras e os urros das onças assustavam os viajantes,
hoje o que assusta são as longas estiagens e suas conseqüências, o atraso
econômico, a destruição da fauna e da flora, a pobreza da população, a baixa
qualidade dos serviços de saúde e educação e a repetição de antigas práticas
políticas.
É preciso repensar o
modelo de desenvolvimento do município, com vistas à dinamização da atividade
produtiva, considerando vocação e potencialidades do lugar. É preciso resgatar o ideal de pertencimento e
responsabilidade pelos destinos do município, trabalhando para melhorá-lo a
cada dia, reduzindo as desigualdades e as injustiças. É preciso repensar
práticas e valores historicamente arraigados, possibilitando o repensar da
nossa própria história para que ousemos no presente construir um futuro melhor.
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