domingo, 12 de agosto de 2012

Mairi do século XXI


Por Gildazio de Oliveira Alves


No século XVI o território onde se localiza atualmente o município de Mairi fazia parte de vasta área entre os rios Itapicuru e Paraguaçu ocupada pelos índios paiaiás. A ocupação efetiva desse território remonta aos idos de 1800, a partir da fundação da fazenda Santa Rosa de Cima, por Severino Gomes de Oliveira. Esse é o marco da fundação da futura Vila de Monte Alegre, até então pertencente ao conjunto de matas, serras e rios que formava a imensa área do sertão das Jacobinas. A origem de Mairi está diretamente associada à exploração das serras de Jacobina, à formação de fazendas de gado e às missões religiosas, responsáveis pela “descoberta” do monte, o marco da Santa Cruz, através do Frei Apolônio de Todi.
Relatos do século XIX e meados do século XX, descrevem Mairi como um lugar de clima excelente e solo fértil, propício à produção de alimentos dos mais variados tipos. Contudo, ao longo do século XX a pecuária se consolidou como atividade hegemônica no município e, atualmente quase tudo que consumimos provém de outros municípios. Na edição de 30/07/78, o Jornal O Paraguaçu destacou o crescimento da pecuária no município e advertiu: “as terras são adquiridas e transformadas em pastos e dia a dia desaparecem as áreas mais propícias à lavoura ameaçando em breve sérios problemas de ordem social” (p.07) A mesma edição destaca ainda que a falta de apoio ao pequeno agricultor implicava  na  venda de suas roças, transformando-os em agregados ou empregados dos pecuaristas, tendo como conseqüência imediata o sub-emprego e o êxodo rural.
A pecuária destruiu as matas exuberantes e os mananciais de água cristalina aqui existentes até o século XIX.  A colonização deste solo concentrou terras e riquezas e não dinamizou as atividades econômicas. Mairi hoje é um município sem receita própria que sobrevive dos repasses oriundos do Governo Federal. Nosso pequeno comércio é alimentado pelos recursos da Previdência Social (aposentados), servidores da Prefeitura Municipal e Programa Bolsa Família.
Se no século XIX o isolamento, a grandeza e escuridão das matas, a escabrosidade das estradas, a febre intermitente, as cobras e os urros das onças assustavam os viajantes, hoje o que assusta são as longas estiagens e suas conseqüências, o atraso econômico, a destruição da fauna e da flora, a pobreza da população, a baixa qualidade dos serviços de saúde e educação e a repetição de antigas práticas políticas.
É preciso repensar o modelo de desenvolvimento do município, com vistas à dinamização da atividade produtiva, considerando vocação e potencialidades do lugar.  É preciso resgatar o ideal de pertencimento e responsabilidade pelos destinos do município, trabalhando para melhorá-lo a cada dia, reduzindo as desigualdades e as injustiças. É preciso repensar práticas e valores historicamente arraigados, possibilitando o repensar da nossa própria história para que ousemos no presente construir um futuro melhor.

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