Por Gildazio de Oliveira Alves
Os novos movimentos
sociais no Brasil se constituem quando do processo da abertura política
recorrendo à Igreja Católica a partir da Teologia da Libertação, às comunidades
Eclesiais de Base, aos grupos de esquerda que procuram se rearticular junto aos
trabalhadores e à estrutura sindical que ressurge no novo sindicalismo.
No campo e na cidade os
trabalhadores contestavam o regime militar, mas sem uma coesão que lhes
assegurasse grande força. O movimento operário urbano vai ressurgir com força
no final da década de 1970, nesse período o campo também fervilhava. É quando
surgem novas entidades de apoio à luta dos trabalhadores do campo como CPT,
CONTAG, MST e o operariado urbano ressurge com grande força a partir das greves
de 1979 no ABC paulista, comandadas pelo então sindicalista Luís Inácio Lula da
Silva. É nesse ambiente político das fábricas de São Bernardo que se desenha o
ressurgimento do operariado brasileiro no final do regime militar. Esse
recomeço da luta operária no Brasil, o chamado novo sindicalismo, o
sindicalismo combativo que viria a fundar o PT (Partido dos Trabalhadores) no dia 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion, em São
Paulo e CUT (Central Única dos Trabalhadores), fundada em 1983.
No campo os
trabalhadores passam a contar com a CPT (Comissão Pastoral da Terra), entidade
Católica ligada à teologia da libertação, que com sua opção preferencial pelos
pobres oferece base argumentativa de cunho socialista aos novos movimentos
sociais na América Latina. A Teologia da Libertação surgiu na década de 1960 a partir da Conferencia de Medelín
na Colômbia (1968) e se fortaleceu na 3ª Conferencia do Episcopado Latino Americano
em 1979 em Puebla, México, quando a Igreja latino americana reafirmou seu
compromisso com os excluídos. Na década de 1980 são fundadas milhares de
Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s) espalhadas por todo o Brasil,
especialmente no campo e nas periferias das grandes cidades, sempre embasadas
na Teologia da Libertação. A década de 80 é assim o período de consolidação e
fortalecimento dos trabalhadores no campo e na cidade, um momento em que os
trabalhadores encontram na Igreja um suporta à sua luta. No campo o tripé MST,
CPT e CEB´s e ainda os sindicatos rurais estão apoiados na Igreja, através da
CNBB e sua ação missionária. Da mesma
forma na cidade os trabalhadores encontram na Igreja o refúgio, um abrigo
nesses momentos difíceis e o discurso de justiça social e dignidade humana.
Com a chegada do PT
ao poder em 2002 há uma concreta e visível acomodação dos movimentos sociais,
quase sempre tutelados pelo do governo federal e alimentados por suas verbas.
Em que pese essa crise de sentido, os movimentos sociais no Brasil
contemporâneo são essenciais em sua missão de chamar a atenção da sociedade
para as nossas mazelas, reforçando lutas históricas contra a exploração
econômica, a concentração de riquezas, a pobreza, a violência e as injustiças.
Nesse sentido, muitos grupos continuam lutando em novas centrais sindicais,
agremiações estudantis diversas (não necessariamente a UNE), etc. Da mesma
forma, não podemos esquecer o papel relevante que entidades como a CUT, a UNE,
MST... representam na sociedade. Precisamos fazer essa crítica, sem cair no
desânimo ou no total descrédito, até por que esse comodismo, essa letargia que
vivemos atualmente passará, como também felizmente passará o governo do PT,
partido que surgiu do movimento operário e cresceu com suas lideranças nas mais
diversas trincheiras grevistas e que no momento enfrenta uma série de greves,
especialmente na área da educação e cala-se diante das demandas desses
trabalhadores, mostrando um comportamento que vai além da contradição histórica
e beira a incompetência.
Uma análise história com propriedade. Mas no último parágrafo vejo que algumas concepções merecem maior aprofundamento. Falo da questão da acomodação dos movimentos sociais e financiamento pelo governo. Há uma ligação direta da CUT com o governo. Claramente o movimento sindical encontra-se muito debilitado, principalmente após a reestruturação produtiva da década de 90 com o ascenso do neoliberalismo. Mas o MST, apesar do vínculo (falo das candidaturas) com o PT, me parece que conseguiu resistir a esse processo. É importante ter claro que até os movimentos sociais perceberem a que vinha o governo Lula demorou um pouco. Mas isso é questão da conjuntura. Hoje conseguimos fazer a análise que ocorreu a formação de uma base ampla, um governo de conciliação de classe, e que hoje demonstra claramente as suas contradições. Acredito que a classe trabalhadora volta a nadar contra a maré e sai do inércia. As greves vem se intensificando. Até a CUT vem cumprindo certo papel nesse processo, a exemplo da greve de 56 mil trabalhadores recentemente desencadeada no ABC.
ResponderExcluirQuem financia o MST é sua própria base, além de outras produtos que são comercializados para simpatizantes e afins, como agendas, camisas, bonés, bandeiras, etc. A estrutura do movimento é por demais complexa e organizada. É um exemplo de organização popular de massas que resiste ao processo de incorporação pelo governo. Não ocorreu no campo o mesmo processo da cidade, onde a classe trabalhadora teve acesso aos bens de consumo e educação (mesmo que precarizada). No campo o governo fechou milhares de escolas, o agronegócio cresceu vertiginosamente e os conflitos agrários aumentaram. Talvez possa ter sido um dos elementos que contribuiu nesse processo de resistência e luta.
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