Por Gildazio de Oliveira Alves
Nesse momento em que o
nordeste brasileiro vivencia a maior seca dos últimos 60 anos, faz –se necessário
debater esse fenômeno e suas variáveis naturais, sociais, econômicas e políticas, descortinando
o que seria a relação deficitária do Estado brasileiro ao longo dos tempos no
enfrentamento dos problemas causados pela estiagem prolongada.
Até a segunda metade do século XIX não se
registrava de maneira significativa quaisquer intervenções estatais nas regiões
atingidas pela seca. Cabia tão somente ao “Céu” a solução do problema. O Estado
era absolutamente ausente e os sertanejos viviam sob a lei dos coronéis e seus
jagunços. A partir de 1877 aos “trampos
e barrancos” tenta-se buscar a solução para o problema, entretanto as respostas
que se sucedem até os dias atuais sempre se mostraram ineficazes.
Até a segunda metade do
século XX uma das grandes preocupações dos governos em torno do fenômeno da
seca era controlar as invasões de retirantes famintos que assolavam as cidades
em busca de trabalho e comida. Foi assim
que o Governo Vargas implementou um programa de criação de campos de
concentração no Ceará para “abrigar” os retirantes da seca, sendo que o maior
deles foi instalado na cidade do Crato e chegou a abrigar quase 60 mil pessoas.
O jornal O Povo de 27 de
março de 1942 anunciava que Fortaleza começava a ser invadida pelos flagelados
da seca e que dificilmente se poderia conter a avalanche humana que movimentava
rumo às regiões menos castigadas pela seca. Fenômenos deste tipo provocavam
preocupação de comerciantes e das autoridades que desejam a todo custo “limpar
as cidades”. Além dos campos de concentração o governo também estimulava a
migração dos sertanejos para os seringais amazônicos, considerados terra da
fartura. Ações como distribuição de
alimentos, criação de frentes de trabalho, construção de açudes e barragens
atravessaram todo o século XX e amenizaram as conseqüências do problema.
É importante destacar que o
Nordeste foi a região onde a colonização portuguesa e seu tripé de sustentação
LATIFÚNDIO, MÃO DE OBRA ESCRAVA e MONOCULTURA se firmou de maneira mais eficaz
nos primórdios da colonização, provocando o esgotamento do solo, grande concentração
de riquezas e uma estrutura fundiária e econômica que condenou o pequeno
produtor à eterna dependência do assistencialismo governamental. Todos esses
fatores aliados às incessantes agressões à natureza através do desmatamento
desenfreado que destruiu o frágil bioma da caatinga transformaram a SECA num
drama cada vez mais assustador e ainda explorado por políticos oportunistas, que
desenvolvem ações paternalistas de olho no voto do sertanejo.
Se no passado os nordestinos
não contavam com o apoio dos governos, por outro lado no “tempo certo” poderiam
colher os frutos da terra fértil, pescar nos rios de água cristalina e buscar
no “céu” as respostas para os dias vindouros. Hoje, certamente a catástrofe
seria muito maior não fossem as ações implementadas ao longo dos anos e à atual
política de distribuição de renda através do Bolsa Família. Desta forma, no
presente não temos levas de famintos invadindo os centros urbanos buscando
alimentos, mas temos o colapso no abastecimento de água das cidades e a perda
significativa dos rebanhos e das lavouras. Os governos priorizam apenas uma
precária “segurança alimentar” e não há ações estruturais efetivas que superem
de fato a pobreza, assegurando a sustentabilidade do homem do campo, que
continua dependente das chuvas irregulares e das eternas ações paliativas.
A seca ainda é um dos fatos que marcam muito a região Nordeste, observamos também que políticos mascaram-se disso no intuito de uma possível (re)eleição, fato observado nas campanhas utilizando-se de tal pretexto ao engendramento de interesses mesquinhos. A problemática da seca, além de natural, tem uma comensurável contribuição dos indivíduos que utilizam recursos naturais de forma desordenada.
ResponderExcluirObservamos isso quando em pleno século de desenvolvimento técnico-social, abusam no uso irregular e indevido da água, recurso naturalmente ofertado pela natureza e contribuiu ao desenvolvimento da sociedade. Além do mais, com o capitalismo e o desejo incomum voltado ao consumismo de bens e produtos, ela acaba sendo desperdiçada, poluída pelos dejetos, subprodutos químicos lançados diretamente nos rios e mananciais de água doce.
Outro fator muito interesante se dá com as políticas públicas de "atenuação" ou "resolução" dos problemas gerados pela seca, investe-se milhões ou bilhões quando os animais ou as lavouras estão em total perda e milhares de agricultores começam a protestar com a situaçao vulnerável a qual se encontram.
Se temos tecnologias em desenvolvimento, pesquisas que apresentam soluçoes/atenuações dos efeitos culminadores da seca, cientistas que debatem e desenvolvem trabalhos correlatos ao assunto, ainda surge uma pergunta: Porque não investir em mais processos ou soluçoes que vão interferir devidamente nesse aspecto podendo extinguir de forma pretenciosa a seca no Nordeste?.