Por Pablo Bandeira*
Nos
últimos dias a sociedade acompanhou pela internet, jornais, revistas e
televisão episódios que escancaram uma grave crise política no Brasil. De um
lado, o rompimento de Eduardo Cunha com o governo e a convocação do PSDB para
os atos pró-impeachment e do outro lado um governo inerte, que se desgasta
ainda mais com a nova prisão do ex-ministro José Dirceu e o fortalecimento das
medidas impopulares de ajuste fiscal.
Essa
crise política é resultado do esgotamento da política neodesenvolvimentista[1],
passando o programa neoliberal da década de 1980-90 novamente a agregar forças.
Isso se dá no cenário de crise econômica mundial que, a pesar de ter estourado
no ano de 2008, atinge o país diretamente nesse momento. Como não existe
crescimento econômico ou o governo cede aos interesses do empresariado ou da
classe trabalhadora.
Desde
que assumiu a postura é de ceder para o empresariado, através do ajuste fiscal,
que corta importantes recursos de setores sociais, o que desagrada a base
popular do governo e insufla os movimentos sociais contra a política econômica
desenvolvida pelo ministro Joaquim Levy. Exemplo disso foram as recentes
mobilizações do MST e MTST[2],
reivindicando o assentamento de 200 mil famílias e o lançamento do programa
Minha Casa Minha Vida 3.
Nesse
cenário de desgaste tem se fortalecido bastante os setores golpistas, que
defendem o impeachment da presidenta como uma saída para a resolução do
conjunto de problemas que o país vivencia. Esses setores estão convocando para
o dia 16 atos em todo o Brasil se utilizando da bandeira de combate a corrupção
como principal chamada e tem a colaboração da mídia, do judiciário e da direita
golpista para orquestrar um golpe institucional no nosso país via o instrumento
do impeachment.
Em
contraposição, movimentos sociais, centrais sindicais e partidos de esquerda
convocam para um ato no dia 20, em defesa da democracia (contra o impeachment),
mas também contra o ajuste fiscal do governo. São os reflexos desses atos que
vão delinear os próximos episódios dessa crise. Por enquanto, a cada dia novos
acontecimentos vão surpreendendo aos espectadores dessa conjuntura, como o mais
recente editorial do jornal O Globo[3],
se posicionando claramente contra o impeachment.
Por
fim, deixo de forma breve minha posição sobre a questão: é preciso defender a
ordem democrática (contra o impeachment), mas ao mesmo tempo ter clareza que o
tempo do PT já passou. O povo brasileiro deve ser contra o ajuste fiscal e
lutar em defesa da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva
e Soberana para construirmos um novo sistema político. Será a luta pela
refundação do Estado brasileiro que nos levará a vencer os setores golpistas
que querem restaurar o neoliberalismo no país e, ao mesmo tempo, superar o
atual governo por um que seja de fato popular.
* Pablo Bandeira é militante da Consulta Popular em Feira de
Santana-BA
[1] O
neodesenvolvimentismo foi o que viabilizou política e economicamente os
governos Lula e Dilma. Foi resultado de um cenário favorável da economia
mundial, com alta das commodities e desgaste do programa neoliberal. Sua
principal característica foi o crescimento econômico aliado à distribuição de
renda.
[3] http://oglobo.globo.com/opiniao/manipulacao-do-congresso-ultrapassa-limites-17109534
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