Por Gilvan Maia*
Livros queimados vivos, ardem em mofo nas prateleiras,
propositalmente silenciados: afinal, a quem (des)interessa o
(des)conhecimento de textos fundamentais? Às forças armadas? Ao
campesinato? Ao guru da CIA? Ao pastor? Ao movimento estudantil? À
classe dominante? Desconfio da existência de um “tribunal dos livros”,
“santa inquisição da literatura", destinado a lançar em prisões os
textos da revolução brasileira. Qual a composição do júri oficial? A
universidade? As escolas? A Igreja Universal? A jurisprudência
academicista-teologicista?
Marx, não sem razão,
cravou: na história, como na natureza, a podridão é o laboratório da
vida. O pensamento marxiano tem essa virtude assustadora, sempre atual e
em construção – ao menos, enquanto durar a ordem social capitalista. Em
que pese a ausência de um estudo sistemático dos seus textos, Marx é
muito citado – em geral, do modo acrítico e com apelo moral – na
tentativa de incutir amor e ou ódio à sua teoria.
Marx,
comunista. Marx, “péssimo pai”. A história oficial é inimiga da boa
história social. Não é historicidade. Marx, para quem? Marx era
marxista? Freire era freiriano?
Socialismo? Quais
sentidos – segundo informa a agenda da “indústria cultural”? A
rinocerotização do mundo é a norma. Ionesco e a metáfora do rinoceronte.
Guerreiro Ramos tematiza a revolução brasileira, a partir de metáfora
do rinoceronte. Guerreiro Ramos, importante sociológico baiano de Santo
Amaro, esquecido, assim como o tema da revolução. Qual revolução? Cópias
de outras revoluções? No Caribe, logo se descobriu que “igualdade,
fraternidade e liberdade” só podia se aplicar à França. Em terras
colonizadas, o liberal só enxerga escravos. Orientações liberais para
escravizar os “bárbaros”. Padrão liberal de privação de liberdade. Um
padrão universal de valores revolucionários não existe, conforme
assinala Edmundo Moniz. Portanto, o tema é atual. Qual a revolução?
Aqui, não vacilo: o caráter da revolução brasileira e latino-americana é
socialista! Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra, Teothonio do Santos,
Augustín Cueva, Ludovico Silva, Martin-Baró, José Carlos Mariategui – só
para citar alguns nomes – informam possibilidades. A marcha da história
e a luta de homens e mulheres são as nossas possibilidades de consumar
as mudanças necessárias. Esperança ou esperançar?
Freire
é citação enlatada, gesto docente acadêmico-burguês, acomodado na
última moda pedagógica. Freire – revolucionário ou reformista? – é
esvaziado de sentidos, lançado “autor internacional”, como se tal coisa
existisse. Freire, o “patrono”: estratégia da ordem. Freire tem uma
cadeira em Harvard, destaca o professor da esquerda liberal! Tal
argumento é completamente rechaçado pelo intelectual da metrópole.
Acaso, algum francês considera a Sorbonne patrimônio do mundo? O
camarada Nildo Ouriques não vacila e, categoricamente, afirma que não!
Por falar nisso: quem é esse tal de Nildo Ouriques? Que se abram as
bibliotecas...
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