quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O PT e as greves II


Por Gildazio de Oliveira Alves

Até o final da década de 1990, a chamada esquerda brasileira e os movimentos sociais criticavam o neoliberalismo, responsável pelo desmonte do Estado, pelo achatamento dos salários dos trabalhadores, pela crescente influência política e econômica estadunidense na América latina. No Brasil, essa política de redução do Estado, arrocho salarial e dependência externa era executada com rigor pelo Governo FHC, que tinha como principal partido de oposição o PT.  Até então ficava fácil para a esquerda identificar o inimigo interno e externo, pois o “monstro neoliberal” estava encarnado em algumas figuras da política brasileira, o inimigo tinha nome e endereço, culpava-se FHC, ACM, o FMI... Ocorre que o PT está no poder há quase 10 anos e, em que pesem os avanços econômicos e sociais, este governo não representou qualquer redirecionamento da lógica neoliberal, ao contrário adaptou-se fielmente e incorporou seus discursos e suas práticas.  FHC deixou o poder, o FMI já não tem tanta influência por aqui, mas o governo do PT se coloca cada vez mais em posição contrária aos interesses dos trabalhadores.
Esse novo comportamento petista ficou explícito na recente greve dos professores na Bahia, quando o governo cortou salários e contratou empresas privadas para ministrar aulões, ao invés de negociar dignamente com transparência. A desculpa de antes era o engessamento do orçamento do Estado pela “herança maldita” dos 16 anos de PFL no poder. E agora?
Na esfera federal servidores deflagram greve em diversos setores, especialmente na área de educação e o governo do partido especialista em greves se esforça ao máximo para dividir os trabalhadores e enfraquecer suas lutas.
Dessa maneira, se as descrenças nas lutas, nas transformações sociais que já eram visíveis nos anos 90, no presente, com o governo do PT, que mantém um discurso para agradar Deus e o Diabo, tais lutas tornaram-se dispersas, frágeis, sem coesão, unidade de discurso. 
Do ponto de vista histórico este governo representa o momento fértil para uma análise da recente história política do Brasil, partindo do pressuposto de que o outrora partido da ética, dos trabalhadores... tem sua bandeira estilhaçada pelos escândalos de corrupção e os trabalhadores sofrem a espera das migalhas dispensadas pelos grandes conglomerados internacionais, bancos e etc. os maiores beneficiados pelos recentes avanços econômicos. Certamente este momento não é o fim da história, mas a instalação da crise de sentido e a oportunidade ímpar para a esquerda repensar seus discursos e práticas, assim como o futuro do Brasil no pós PT.

3 comentários:

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  2. parabéns!! uma análises concisa e muito certeira

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  3. Vamo lá...a análise de que o PT retroagiu na sua postura, principalmente fazendo uma comparação com aquele partido que disputou as eleições em 1989, ao meu ver, está correta. Mas, como disse em um dos comentários do "O PT e as Greves I", o governo Lula foi um governo de conciliação de classe. Ainda hoje, existem pequenos setores no PT que resistem, a exemplo da EPS e da AE, ao processo de incorporação à lógica do capital. Outra coisa: o período Lula-Dilma de forma alguma se caracteriza pela adesão ao neoliberalismo. Não é um debate ainda muito aprofundado pela esquerda, mas criou-se uma definição para esse período que está sendo chamada de Neodesenvolvimentismo, ou seja, grandes investimentos em infraestrutura com distribuição de renda. As características do governo FHC, como as grandes privatizações de setores estratégicos (Telecomunicações, Energia e Águas, Mineração, etc.) e submissão ao capital financeiro internacional, não persistiram, pelo menos não da mesma forma. Inclusive, as políticas sociais não são características do período neoliberal. Só pra esclarecer, de forma alguma venho aqui em defesa do PT e do governo Lula, até porque não houveram avanços significativos rumo a modificações reais da estrutura capitalista atual. Mas há de se convir que, do ponto de vista político-econômico, conseguimos avançar. Não é o suficiente. A postura do governo não está nos moldes adequados para que se transforme a bruta realidade de exploração do trabalho pelo Capital.

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