quarta-feira, 10 de abril de 2013

O histórico e insolúvel problema da seca no Nordeste

Por Gildazio de Oliveira Alves
          Nesse momento em que o nordeste brasileiro vivencia a maior seca dos últimos 60 anos, faz –se necessário debater esse fenômeno e suas variáveis  naturais, sociais, econômicas e políticas, descortinando o que seria a relação deficitária do Estado brasileiro ao longo dos tempos no enfrentamento dos problemas causados pela estiagem prolongada.
Até a segunda metade do século XIX não se registrava de maneira significativa quaisquer intervenções estatais nas regiões atingidas pela seca. Cabia tão somente ao “Céu” a solução do problema. O Estado era absolutamente ausente e os sertanejos viviam sob a lei dos coronéis e seus jagunços.  A partir de 1877 aos “trampos e barrancos” tenta-se buscar a solução para o problema, entretanto as respostas que se sucedem até os dias atuais sempre se mostraram ineficazes.
            Até a segunda metade do século XX uma das grandes preocupações dos governos em torno do fenômeno da seca era controlar as invasões de retirantes famintos que assolavam as cidades em busca de trabalho e comida.  Foi assim que o Governo Vargas implementou um programa de criação de campos de concentração no Ceará para “abrigar” os retirantes da seca, sendo que o maior deles foi instalado na cidade do Crato e chegou a abrigar quase 60 mil pessoas.
          O jornal O Povo de 27 de março de 1942 anunciava que Fortaleza começava a ser invadida pelos flagelados da seca e que dificilmente se poderia conter a avalanche humana que movimentava rumo às regiões menos castigadas pela seca. Fenômenos deste tipo provocavam preocupação de comerciantes e das autoridades que desejam a todo custo “limpar as cidades”. Além dos campos de concentração o governo também estimulava a migração dos sertanejos para os seringais amazônicos, considerados terra da fartura.  Ações como distribuição de alimentos, criação de frentes de trabalho, construção de açudes e barragens atravessaram todo o século XX e amenizaram as conseqüências do problema.
           É importante destacar que o Nordeste foi a região onde a colonização portuguesa e seu tripé de sustentação LATIFÚNDIO, MÃO DE OBRA ESCRAVA e MONOCULTURA se firmou de maneira mais eficaz nos primórdios da colonização, provocando o esgotamento do solo, grande concentração de riquezas e uma estrutura fundiária e econômica que condenou o pequeno produtor à eterna dependência do assistencialismo governamental. Todos esses fatores aliados às incessantes agressões à natureza através do desmatamento desenfreado que destruiu o frágil bioma da caatinga transformaram a SECA num drama cada vez mais assustador e ainda explorado por políticos oportunistas, que desenvolvem ações paternalistas de olho no voto do sertanejo. 
            Se no passado os nordestinos não contavam com o apoio dos governos, por outro lado no “tempo certo” poderiam colher os frutos da terra fértil, pescar nos rios de água cristalina e buscar no “céu” as respostas para os dias vindouros. Hoje, certamente a catástrofe seria muito maior não fossem as ações implementadas ao longo dos anos e à atual política de distribuição de renda através do Bolsa Família. Desta forma, no presente não temos levas de famintos invadindo os centros urbanos buscando alimentos, mas temos o colapso no abastecimento de água das cidades e a perda significativa dos rebanhos e das lavouras. Os governos priorizam apenas uma precária “segurança alimentar” e não há ações estruturais efetivas que superem de fato a pobreza, assegurando a sustentabilidade do homem do campo, que continua dependente das chuvas irregulares e das eternas ações paliativas. 

Um comentário:

  1. A seca ainda é um dos fatos que marcam muito a região Nordeste, observamos também que políticos mascaram-se disso no intuito de uma possível (re)eleição, fato observado nas campanhas utilizando-se de tal pretexto ao engendramento de interesses mesquinhos. A problemática da seca, além de natural, tem uma comensurável contribuição dos indivíduos que utilizam recursos naturais de forma desordenada.

    Observamos isso quando em pleno século de desenvolvimento técnico-social, abusam no uso irregular e indevido da água, recurso naturalmente ofertado pela natureza e contribuiu ao desenvolvimento da sociedade. Além do mais, com o capitalismo e o desejo incomum voltado ao consumismo de bens e produtos, ela acaba sendo desperdiçada, poluída pelos dejetos, subprodutos químicos lançados diretamente nos rios e mananciais de água doce.

    Outro fator muito interesante se dá com as políticas públicas de "atenuação" ou "resolução" dos problemas gerados pela seca, investe-se milhões ou bilhões quando os animais ou as lavouras estão em total perda e milhares de agricultores começam a protestar com a situaçao vulnerável a qual se encontram.

    Se temos tecnologias em desenvolvimento, pesquisas que apresentam soluçoes/atenuações dos efeitos culminadores da seca, cientistas que debatem e desenvolvem trabalhos correlatos ao assunto, ainda surge uma pergunta: Porque não investir em mais processos ou soluçoes que vão interferir devidamente nesse aspecto podendo extinguir de forma pretenciosa a seca no Nordeste?.

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