terça-feira, 1 de abril de 2014

Ideologia militar, anticomunismo e as razões do golpe militar de 1964

Por Gildazio de Oliveira Alves


             O golpe militar de 1964 não foi obra do acaso, mas fruto de longo processo de amadurecimento de idéias políticas desenvolvidas pelos militares e amplamente arraigadas nesse meio. Para elucidar as razões do golpe é preciso analisar minuciosamente a rede de relações, os embates, as tramas, os golpes e contra-golpes ocorridos na política brasileira desde a Era Vargas até 1964, delineando a constante vigília dos militares acerca do cargo de Presidente da República, com vistas no combate ao avanço comunista.
             Os militares estavam por ocasião do golpe de 1964 convencidos de que o presidente João Goulart levaria o Brasil ao Socialismo. Contudo, a ideologia anticomunista não era novidade na política brasileira e desde a Era Vargas (1951-1954) os militares observavam atentamente cada passo do Presidente. Nesse período, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) principal partido da base do governo seguia a linha dos partidos socialistas democráticos europeus. Getúlio Vargas tinha como Ministro do Trabalho João Goulart e adotava uma política nacionalista. A busca do apoio dos trabalhadores não surtiu o efeito desejado e a pressão dos adversários civis da UDN (União Democrática Nacional) e dos militares culminou no suicídio do Presidente Vargas em 1954.
Com o suicido Vargas foi transformado em herói e seus opositores não conseguiram eleger sucessor. Em 1955 Juscelino foi eleito pelo PSD (Partido Social Democrático), alinhado ao centro, tendo à esquerda o PTB e à direita a UDN. O governo Juscelino mesmo atacado por militares anti-getulistas e civis da UDN sobreviveu até o fim. Na eleição de 1960 a UDN emplacou Jânio Quadros que até então tinha um discurso que agradava à direita. Jânio fora eleito tendo como vice o candidato a essa função na chapa adversária, o ex-ministro João Goulart. Uma vez no governo Jânio promoveu uma virada à esquerda ao se aproximar de Cuba e ao conceder a Che Guevara a Medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul. Pressionado pelos opositores renunciou em 1961. Nesse período o Vice-Presidente João Goulart estava na China e os militares comunicaram que ele não poderia assumir a Presidência. Entretanto, o movimento pela “legalidade” pressionava pela posse de Goulart, o que ocorreu após ampla negociação e acordo que reduziu os poderes do Presidente e transformou o Brasil numa República Parlamentarista. Somente em 1963 através de plebiscito o país voltou a adotar o presidencialismo.
Nos idos de 1960, no governo Jango, o Brasil enfrentava sérios problemas na infra-estrutura física e problemas sociais como a Educação restrita aos mais ricos, a saúde também distante dos mais pobres e a secular estrutura agrária que concentra riqueza e poder. Já a economia apresentava uma combinação pouco agradável de déficit na balança comercial e inflação. A provável solução apresentada no plano elaborado por San Thiago Dantas e Celso Furtado continham medidas impopulares e o Presidente preferiu seguir o plano nacionalista/populista e buscava se aproximar cada vez mais da esquerda, sempre dividida em várias correntes adversárias. O diálogo com o povo através dos grandes comícios, não resultou no devido apoio da população no momento preciso e o golpe militar de 1º de abril de 1964 ocorreu sem que houvesse qualquer resistência.
Ainda acerca das circunstancias do golpe de 1964 é preciso destacar que o mundo estava divido em dois principais blocos com os Estados Unidos e o mundo capitalista de um lado e do outro a União Soviética e os países socialistas. Nesse sentido, cabe destacar que os Estados Unidos participaram diretamente dos conchavos que levaram ao golpe de 1964. Entretanto, a realidade da política brasileira já descrita acima foi decisiva para o “sucesso” do golpe, que ocorreu sem resistências iniciais e com o apoio de setores religiosos e midiáticos. O que ocorreria depois merece uma abordagem à parte. O fato é que o ano de 1964 ficou marcado como o início de um dos períodos mais difíceis da história do Brasil.
Nestes 50 anos do golpe é fundamental refletir sobre este fato marcante da nossa história, bem como sobre o Brasil de hoje, seus vícios, seus males, os resquícios autoritarismo de outrora e a necessidade de continuarmos aprimorando nossa democracia, com vistas a um projeto de nação que considere primordiais a participação popular, a qualidade de todos os serviços públicos e a redução das desigualdades, melhorando os padrões de vida de todos os brasileiros.  DITADURA NUNCA MAIS!!!

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