quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Lutar contra o golpe e em defesa de uma constituinte exclusiva e soberana do sistema político: causas, episódios e alternativas para a crise política brasileira


Por Pablo Bandeira*

                Nos últimos dias a sociedade acompanhou pela internet, jornais, revistas e televisão episódios que escancaram uma grave crise política no Brasil. De um lado, o rompimento de Eduardo Cunha com o governo e a convocação do PSDB para os atos pró-impeachment e do outro lado um governo inerte, que se desgasta ainda mais com a nova prisão do ex-ministro José Dirceu e o fortalecimento das medidas impopulares de ajuste fiscal.
                Essa crise política é resultado do esgotamento da política neodesenvolvimentista[1], passando o programa neoliberal da década de 1980-90 novamente a agregar forças. Isso se dá no cenário de crise econômica mundial que, a pesar de ter estourado no ano de 2008, atinge o país diretamente nesse momento. Como não existe crescimento econômico ou o governo cede aos interesses do empresariado ou da classe trabalhadora.
                Desde que assumiu a postura é de ceder para o empresariado, através do ajuste fiscal, que corta importantes recursos de setores sociais, o que desagrada a base popular do governo e insufla os movimentos sociais contra a política econômica desenvolvida pelo ministro Joaquim Levy. Exemplo disso foram as recentes mobilizações do MST e MTST[2], reivindicando o assentamento de 200 mil famílias e o lançamento do programa Minha Casa Minha Vida 3.
                Nesse cenário de desgaste tem se fortalecido bastante os setores golpistas, que defendem o impeachment da presidenta como uma saída para a resolução do conjunto de problemas que o país vivencia. Esses setores estão convocando para o dia 16 atos em todo o Brasil se utilizando da bandeira de combate a corrupção como principal chamada e tem a colaboração da mídia, do judiciário e da direita golpista para orquestrar um golpe institucional no nosso país via o instrumento do impeachment.
                Em contraposição, movimentos sociais, centrais sindicais e partidos de esquerda convocam para um ato no dia 20, em defesa da democracia (contra o impeachment), mas também contra o ajuste fiscal do governo. São os reflexos desses atos que vão delinear os próximos episódios dessa crise. Por enquanto, a cada dia novos acontecimentos vão surpreendendo aos espectadores dessa conjuntura, como o mais recente editorial do jornal O Globo[3], se posicionando claramente contra o impeachment.
                Por fim, deixo de forma breve minha posição sobre a questão: é preciso defender a ordem democrática (contra o impeachment), mas ao mesmo tempo ter clareza que o tempo do PT já passou. O povo brasileiro deve ser contra o ajuste fiscal e lutar em defesa da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva e Soberana para construirmos um novo sistema político. Será a luta pela refundação do Estado brasileiro que nos levará a vencer os setores golpistas que querem restaurar o neoliberalismo no país e, ao mesmo tempo, superar o atual governo por um que seja de fato popular.

* Pablo Bandeira é militante da Consulta Popular em Feira de Santana-BA        


[1] O neodesenvolvimentismo foi o que viabilizou política e economicamente os governos Lula e Dilma. Foi resultado de um cenário favorável da economia mundial, com alta das commodities e desgaste do programa neoliberal. Sua principal característica foi o crescimento econômico aliado à distribuição de renda.
[3] http://oglobo.globo.com/opiniao/manipulacao-do-congresso-ultrapassa-limites-17109534

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