terça-feira, 10 de agosto de 2021

*Que se abram as bibliotecas...*

 Por Gilvan Maia*

Livros queimados vivos, ardem em mofo nas prateleiras, propositalmente silenciados: afinal, a quem (des)interessa o (des)conhecimento de textos fundamentais? Às forças armadas? Ao campesinato? Ao guru da CIA? Ao pastor? Ao movimento estudantil? À classe dominante? Desconfio da existência de um “tribunal dos livros”, “santa inquisição da literatura", destinado a lançar em prisões os textos da revolução brasileira. Qual a composição do júri oficial? A universidade? As escolas? A Igreja Universal? A jurisprudência academicista-teologicista? 

Marx, não sem razão, cravou: na história, como na natureza, a podridão é o laboratório da vida. O pensamento marxiano tem essa virtude assustadora, sempre atual e em construção – ao menos, enquanto durar a ordem social capitalista. Em que pese a ausência de um estudo sistemático dos seus textos, Marx é muito citado – em geral, do modo acrítico e com apelo moral – na tentativa de incutir amor e ou ódio à sua teoria.  
 
Marx, comunista. Marx, “péssimo pai”. A história oficial  é inimiga da boa história social. Não é historicidade. Marx, para quem? Marx era marxista? Freire era freiriano? 
 
Socialismo? Quais sentidos – segundo informa a agenda da “indústria cultural”? A rinocerotização do mundo é a norma. Ionesco e a metáfora do rinoceronte. Guerreiro Ramos tematiza a revolução brasileira, a partir de metáfora do rinoceronte. Guerreiro Ramos, importante sociológico baiano de Santo Amaro, esquecido, assim como o tema da revolução. Qual revolução? Cópias de outras revoluções? No Caribe, logo se descobriu que “igualdade, fraternidade e liberdade” só podia se aplicar à França. Em terras colonizadas, o liberal só enxerga escravos. Orientações liberais para escravizar os “bárbaros”. Padrão liberal de privação de liberdade. Um padrão universal de valores revolucionários não existe, conforme assinala Edmundo Moniz. Portanto, o tema é atual. Qual a revolução? Aqui, não vacilo: o caráter da revolução brasileira e latino-americana é socialista! Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra, Teothonio do Santos, Augustín Cueva, Ludovico Silva, Martin-Baró, José Carlos Mariategui – só para citar alguns nomes – informam possibilidades. A marcha da história e a luta de homens e mulheres são as nossas possibilidades de consumar as mudanças necessárias. Esperança ou esperançar? 
 
Freire é citação enlatada, gesto docente acadêmico-burguês, acomodado na última moda pedagógica. Freire – revolucionário ou reformista? – é esvaziado de sentidos, lançado “autor internacional”, como se tal coisa existisse. Freire, o “patrono”: estratégia da ordem. Freire tem uma cadeira em Harvard, destaca o professor da esquerda liberal! Tal argumento é completamente rechaçado pelo intelectual da metrópole. Acaso, algum francês considera a Sorbonne patrimônio do mundo? O camarada Nildo Ouriques não vacila e, categoricamente, afirma que não! Por falar nisso: quem é esse tal de Nildo Ouriques? Que se abram as bibliotecas...
 
* Gilvan de Oliveira Rios Maia, Mestre em Ensino de Física, Professor e militante da Revolução Brasileira

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