Por Gildazio de Oliveira Alves
Poucas
vezes na história Brasil revoltas populares eclodiram de norte a sul, com
objetivos semelhantes, num só coro, num só grito, exigindo mudanças. Tomemos
como referência o MOVIMENTO DIRETAS JÁ. Quando o povo foi às ruas em 1984,
naquele momento governo, lideranças e partidos políticos pareciam não entender
a dimensão do clamor popular e se engalfinhavam nos bastidores e nos palanques
pela manutenção do poder que o antigo regime lhes outorgara. A ditadura
agonizava, o povo tomava as ruas no anseio de decidir o futuro da nação através
do voto direto, mas o parlamento, numa solução negociada com a ditadura optou
pela eleição indireta, rejeitando a emenda Dante de Oliveira. O direito ao voto
direto para Presidente só viria de fato a ser conquistado nas eleições de 1989,
quando o povo tomado pelo desejo de mudança, deu uma “guinada à direita” e caiu
no discurso do “caçador de marajás” elegendo Fernando Collor presidente.
Em
1992, o povo volta às ruas no movimento CARAS PINTADAS pedindo o impeachment do
primeiro Presidente eleito no pós ditadura. Desde então, manifestações pontuais
sempre aconteceram no Brasil sem qualquer articulação a nível nacional ou grandes
sobressaltos. São movimentos com
bandeiras distintas, sem vinculação partidária que protestam por moradia, pela
posse da terra, contra a corrupção, pela igualdade de gênero, liberdade
religiosa etc... movimentos que não representam a possibilidade de abalo das
estruturas do poder central.
O
17 de junho de 2013 entrará para a nossa história como o dia em que o povo
tomou as ruas das principais capitais do Brasil, num só coro, num só grito,
exigindo mudanças. Mais uma vez os políticos parecem não compreender o que está
acontecendo e enviam mensagens contraditórias que em alguns momentos parecem acenar
para um provável apoio, em outros deslizam para a repressão a qualquer custo. O
que realmente parece novo no MOVIMENTO PASSE LIVRE que tomou ás ruas do país esta
semana é o fato de que sua coordenação não está atrelada a nenhuma central
sindical ou partido político. Provou-se que não é necessária a participação das
tradicionais forças mobilizadoras de protesto no Brasil como a CUT, FORÇA SINDICAL, UNE, MST ou de partidos como
o PT, PCdoB, PSB, PDT etc. para que o povo tome as ruas e exija mudanças.
O
que existe de concreto neste momento não é a idéia de tomada do poder ou do
surgimento de um grande líder, características marcantes em movimentos
populares que permearam a história do Brasil, como a Revolução Farroupilha,
Canudos, Contestado, Juazeiro, Cangaço, dentre outros. O que se vê neste momento ímpar é o uso das
redes sociais, espalhando um sentimento mobilizador que é generalizado, fruto
do cansaço com os desmandos dos sucessivos governos, sempre tolerantes com a corrupção
enraizada nas práticas políticas que transformam os gabinetes em balcões de
negócios, onde acordos espúrios são tecidos entre setores públicos e privados;
assim como pela revolta com a manutenção de uma estrutura tributária que sufoca
a classe média, além da constante ameaça de retorno da inflação e o alto custo
e baixa qualidade dos serviços de transporte coletivo, razão do início dos
movimentos atuais, que já se estende englobando estas e outras questões como os
gastos exorbitantes com a copa do mundo em detrimento dos investimentos em
saúde e educação.
O fato é que o Brasil, considerado uma das
mais sólidas democracias das Américas, não aproveitou nas três ultimas décadas
a oportunidade de fazer reformas estruturais que modificasse de fato as grandes
contradições sociais existentes, o abismo entre ricos e pobres, a injusta
estrutura agrária, o sistema político, a educação e a saúde. Espero que este
momento seja de fato uma oportunidade para pensarmos o país que queremos para o
futuro e as lições que poderemos tirar das ruas, assim como o que de fato
podemos fazer para mudar a nossa própria história. E que possamos avançar rumo
a um país melhor. Que o barulho das ruas não seja o despertar para outra
guinada à direita conservadora, como historicamente ocorre quando a democracia
não dá as devidas respostas aos anseios populares. Que esse esplêndido
exercício do direito de protestar não seja apenas um modismo passageiro
turbinado pelas redes sociais, a partir de uma classe média estudantil, que já
colhe os frutos da política econômica dos últimos anos. Que o MOVIMENTO não se
encaminhe apenas para novos acordos de gabinete, afinal, a luta por cidades
melhores, por um país melhor deve ser constante, supra-partidária, “colorida” e
pacífica.
Que sua reflexão tome rumo pelo País.
ResponderExcluirVou divulgar, fazendo minha parte nas redes sociais e nas ruas.
Espero por sua próxima manifestação, como sempre, inteligente.
Um abraço.
Jaciara Cedraz
Obrigado Jaci.
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