terça-feira, 18 de junho de 2013

MOVIMENTO PASSE LIVRE: Oportunidade para repensarmos o BRASIL




Por Gildazio de Oliveira Alves

    Poucas vezes na história Brasil revoltas populares eclodiram de norte a sul, com objetivos semelhantes, num só coro, num só grito, exigindo mudanças. Tomemos como referência o MOVIMENTO DIRETAS JÁ. Quando o povo foi às ruas em 1984, naquele momento governo, lideranças e partidos políticos pareciam não entender a dimensão do clamor popular e se engalfinhavam nos bastidores e nos palanques pela manutenção do poder que o antigo regime lhes outorgara. A ditadura agonizava, o povo tomava as ruas no anseio de decidir o futuro da nação através do voto direto, mas o parlamento, numa solução negociada com a ditadura optou pela eleição indireta, rejeitando a emenda Dante de Oliveira. O direito ao voto direto para Presidente só viria de fato a ser conquistado nas eleições de 1989, quando o povo tomado pelo desejo de mudança, deu uma “guinada à direita” e caiu no discurso do “caçador de marajás” elegendo Fernando Collor presidente.
Em 1992, o povo volta às ruas no movimento CARAS PINTADAS pedindo o impeachment do primeiro Presidente eleito no pós ditadura. Desde então, manifestações pontuais sempre aconteceram no Brasil sem qualquer articulação a nível nacional ou grandes sobressaltos.  São movimentos com bandeiras distintas, sem vinculação partidária que protestam por moradia, pela posse da terra, contra a corrupção, pela igualdade de gênero, liberdade religiosa etc... movimentos que não representam a possibilidade de abalo das estruturas do poder central.
O 17 de junho de 2013 entrará para a nossa história como o dia em que o povo tomou as ruas das principais capitais do Brasil, num só coro, num só grito, exigindo mudanças. Mais uma vez os políticos parecem não compreender o que está acontecendo e enviam mensagens contraditórias que em alguns momentos parecem acenar para um provável apoio, em outros deslizam para a repressão a qualquer custo. O que realmente parece novo no MOVIMENTO PASSE LIVRE que tomou ás ruas do país esta semana é o fato de que sua coordenação não está atrelada a nenhuma central sindical ou partido político. Provou-se que não é necessária a participação das tradicionais forças mobilizadoras de protesto no Brasil como a CUT,  FORÇA SINDICAL, UNE, MST ou de partidos como o PT, PCdoB, PSB, PDT etc. para que o povo tome as ruas e exija mudanças.
O que existe de concreto neste momento não é a idéia de tomada do poder ou do surgimento de um grande líder, características marcantes em movimentos populares que permearam a história do Brasil, como a Revolução Farroupilha, Canudos, Contestado, Juazeiro, Cangaço, dentre outros.  O que se vê neste momento ímpar é o uso das redes sociais, espalhando um sentimento mobilizador que é generalizado, fruto do cansaço com os desmandos dos sucessivos governos, sempre tolerantes com a corrupção enraizada nas práticas políticas que transformam os gabinetes em balcões de negócios, onde acordos espúrios são tecidos entre setores públicos e privados; assim como pela revolta com a manutenção de uma estrutura tributária que sufoca a classe média, além da constante ameaça de retorno da inflação e o alto custo e baixa qualidade dos serviços de transporte coletivo, razão do início dos movimentos atuais, que já se estende englobando estas e outras questões como os gastos exorbitantes com a copa do mundo em detrimento dos investimentos em saúde e educação.
 O fato é que o Brasil, considerado uma das mais sólidas democracias das Américas, não aproveitou nas três ultimas décadas a oportunidade de fazer reformas estruturais que modificasse de fato as grandes contradições sociais existentes, o abismo entre ricos e pobres, a injusta estrutura agrária, o sistema político, a educação e a saúde. Espero que este momento seja de fato uma oportunidade para pensarmos o país que queremos para o futuro e as lições que poderemos tirar das ruas, assim como o que de fato podemos fazer para mudar a nossa própria história. E que possamos avançar rumo a um país melhor. Que o barulho das ruas não seja o despertar para outra guinada à direita conservadora, como historicamente ocorre quando a democracia não dá as devidas respostas aos anseios populares. Que esse esplêndido exercício do direito de protestar não seja apenas um modismo passageiro turbinado pelas redes sociais, a partir de uma classe média estudantil, que já colhe os frutos da política econômica dos últimos anos. Que o MOVIMENTO não se encaminhe apenas para novos acordos de gabinete, afinal, a luta por cidades melhores, por um país melhor deve ser constante, supra-partidária, “colorida” e pacífica.



2 comentários:

  1. Que sua reflexão tome rumo pelo País.
    Vou divulgar, fazendo minha parte nas redes sociais e nas ruas.
    Espero por sua próxima manifestação, como sempre, inteligente.
    Um abraço.
    Jaciara Cedraz

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